
“Gostamos de trabalhar com autores que não escrevem texto para teatro. Trabalhamos durante um semestre as obras do Manoel de Barros e montamos um recital de poesias e esse, que é um espetáculo dramático, com escritos dele inseridos no texto, de forma que a poesia fique diluída no meio da peça”, explica Adriano Guimarães.
Nascidos em Goiás, os irmãos encontraram na importância que o poeta atribui à ancestralidade o fio condutor para a construção do espetáculo, que se passa no seio de uma família, no aniversário de 80 anos do avô. Para acomodar anfitriões e convidados, 30 assentos em madeira, dos mais variados estilos e dimensões, estão distribuídos pelo espaço cênico, tornando-se difícil distinguir elenco e plateia.
“Quisemos colocar o espectador dentro da peça, da mesma forma que Manoel de Barros faz com sua obra, na qual insere o leitor. O público transforma-se em convidado dessa festa de aniversário. Apesar de as pessoas estarem inseridas na peça, não há interação, elas não são obrigadas a participar”, destaca o diretor.
Para transformar o local em uma grande sala de visitas, o palco e a plateia foram retirados. Decorando o espaço, mais de quatro mil peças de vidro cuidadosamente iluminadas, de todos os tamanhos e feitios, ocupam a extensão do plano inclinado onde se costuma acomodar a plateia. Esvaziadas de sua utilidade original, as peças não podem ser chamadas de cenário, no entanto, já que não servem à cena: “Manoel usa em suas poesias muitas ‘inutilezas’, ou seja, coisas que já tiveram utilidade e hoje são abandonadas, ninguém as vê. Quisemos colocar um olhar sob esses objetos, que ajudam na atmosfera que criamos”.
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